Lançamento simbólico é este sábado no Tejo, em frente ao Cais das Colunas, em Lisboa. Depois, o barco não tripulado será levado a bordo da caravela Vera Cruz até ao mar alto. E deixado aí à sua sorte.
Esteve quase um ano à deriva, depois de ter sido lançado ao mar, por iniciativa de alunos de uma escola dos Estados Unidos, em Dezembro de 2013. Em Novembro de 2014, o West, um barco de apenas 1,5 metros de comprimento, impulsionado só por ventos e correntes, embatia nas rochas de uma praia perto do farol do Penedo da Saudade, em São Pedro de Moel. Agora, alunos de várias escolas portuguesas vão lançá-lo ao mar, para que tente regressar a casa.
Primeiro, é o lançamento simbólico no Tejo, em frente ao Cais das Colunas, em Lisboa, a partir das 10h deste sábado. Cerca de 80 alunos de duas escolas da Nazaré – da Escola Básica Amadeu Gaudêncio e do Externato Dom Fuas Roupinho – vão estar a bordo do antigo bacalhoeiro Santa Maria Manuela, para lançarem o West ao rio. Depois de ter sido reparado nos Estaleiros da Nazaré a um rombo no casco, foram os alunos destas escolas que decoraram o barco – pintaram uma varina, um pescador num barco, um farol, as bandeiras de Portugal e dos Estados Unidos… – e que escreveram mensagens para acompanhar a embarcação na viagem pelo Atlântico.
Depois, o West vai ser apanhado ainda no Tejo e levado para o mar alto a bordo da Vera Cruz, uma réplica das caravelas dos Descobrimentos, da Associação Portuguesa de Treino de Vela (Aporvela). A bordo seguirão alunos várias escolas (de Almada, Carnaxide, Porto, Tavira e Loulé), que vão largar o barquinho a cerca de 100 milhas a Sudoeste de Lisboa, o que deverá acontecer, a qualquer momento, a partir de segunda-feira à noite.
O grande sonho é que faça o caminho de volta, de preferência até perto do estado do Maine, onde fica a Escola Preparatória de Westbrook. Foram alunos desta escola que baptizaram o barco e foi em nome deles que um pescador de lagostas o levou para o mar e o deixou sozinho, à sua sorte.
Esta iniciativa faz parte do Educational Passages, um programa educativo sobre ciências do mar destinado às escolas nos Estados Unidos, que nasceu de uma ideia de Richard Baldwin, antigo navegador solitário norte-americano. Richard Baldwin, que coordena o Educational Passages, veio de propósito a Lisboa ver a largada do West.
Muitos outros pequenos barcos têm sido lançados no Atlântico por iniciativa de escolas dos Estados Unidos, desde 2008, e servem para aprender mais sobre os oceanos e até geografia. Podem ser seguidos pela Internet, no site do Educational Passages. Equipado com um receptor GPS e um transmissor, o West não é excepção e os alunos da Escola Preparatória de Westbrook podiam saber por onde andava o seu barquinho.
Em Portugal, o percurso do West também estava a ser seguido por investigadores do Centro de Ambiente e Tecnologias Marinhas (Maretec) do Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa. Utilizando um modelo de computador para fazer previsões sobre o que acontece a um objecto à deriva no mar, ao sabor dos ventos e das correntes, os cientistas puderam prever o local e a hora da chegada do West à costa portuguesa.
Chegou a 12 de Novembro, ao fim de mais de 10.000 milhas de viagem (mais de 18.500 quilómetros). Pelos binóculos, os faroleiros do farol do Penedo da Saudade viram-no a aproximar-se da praia – e um dos faroleiros, acompanhado por elemento da Polícia Marítima, foi apanhá-lo no vaivém das ondas.
Para devolver ao mar este barco aventuroso, um pedido feito a quem encontrar uma das embarcações do Educational Passages, surgiu o projecto West leva Portugal ao Mundo, numa parceria que inclui, entre outros, o Maretec, o Instituto de Sistemas e Robótica do IST, a Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica e o projecto Kit do Mar, da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC). Além disso, a iniciativa foi enquadrada no projecto europeu Sea For Society, que visa sensibilizar a sociedade para uma cidadania do mar.
Na segunda-feira à noite, quando a Vera Cruz estiver a 100 milhas a Sudoeste de Lisboa, a equipa do projecto vai receber um telefonema da caravela, conta Raquel Costa, coordenadora do Kit do Mar. Os investigadores do Maretec, que estarão a simular a rota do West tendo em conta as correntes e os ventos, vão dizer qual é a melhor localização para que o barco siga uma rota até aos Estados Unidos. “Se atravessar o Atlântico, já é bom”, considera Luís Sebastião, investigador do Instituto de Sistemas e Robótica do IST envolvido no projecto.
Um ano, duas embarcações
Mas esta aventura teve um antecedente. Tudo começou quando o primeiro barquinho não tripulado, lançado pela primeira vez no mar em Maio de 2012, também no programa Educational Passages, atravessou o Atlântico à deriva e chegou a Portugal. Apadrinhado pela Escola Preparatória John Winthrop, em Deep River, uma cidade perto da foz do rio Connecticut, o “Charger” foi parar à praia da vila da Torreira, no concelho da Murtosa, em Janeiro de 2014. E logo nessa altura desencadeou uma onda de solidariedade, entre várias instituições, para que fosse devolvido ao mar.