Esta é uma das memórias da solidariedade da comunidade portuguesa do secretário de Estado José Luís Carneiro. Texto escrito em exclusivo para a SÁBADO.
O secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, chegou à Beira na quarta-feira, 20 de março. Tinham passado cinco dias desde o ciclone, que deixou um rasto de destruição nesta cidade moçambicana e 600 mil desalojados, segundo estima o governo daquele país, em toda a região.
Já em Portugal, onde chegou na segunda-feira, 25, à noite, escreveu este texto para a SÁBADO sobre o que ali testemunhou:
“Há cerca de um ano tinha já visitado a Beira, terra que inspirou Zeca Afonso, que ali ensinou a disciplina de Geografia e próxima de outras paragens visitadas por Luís Vaz de Camões. Aliás, são muitas as marcas de Portugal naquela cidade. Seja na arquitetura, na toponímia e em questões triviais, mas significativas, como o modo como os moçambicanos acompanham o desporto português.
Aliás, a comunidade portuguesa ali residente encontra-se bem integrada e é estimada pelas autoridades locais e pelos moçambicanos.
São portugueses empreendedores e que contribuem muito para o progresso da sociedade local, através da criação de empresas, mas também como quadros técnicos qualificados.
Nesta visita foi-me confiada a nobre missão de liderar uma equipa de avaliação dos elevados prejuízos humanos e materiais causados pelo ciclone Idai, tendo em vista colocarmos no terreno a ajuda humanitária ao povo moçambicano, juntamente com os outros países da União Europeia e da ONU e, ao mesmo tempo, cuidar da comunidade Portuguesa.
Foram dias muito intensos, marcados por vários contactos institucionais e por encontros com a comunidade portuguesa, que apesar do choque e da ansiedade própria do momento, cerrou fileiras e demonstrou tocantes exemplos de solidariedade. Como o do empresário que colocou viaturas automóveis à disposição dos trabalhos de recuperação. Ou o do cidadão que viajou de Maputo à Beira para trazer um aparelho de medição dos níveis de glicemia para um cidadão diabético dele necessitado.
Fiquei também comovido com a capacidade de resiliência do povo da Beira que, ao fim de poucos dias, já estava a levantar telhados, a reaproveitar as chapas perdidas pelo vento, a vender frutas, artesanato e a cuidar dos seus irmãos.
Vi rostos de crianças alegres e a fazer desenhos no chão, com os dedos. Visitei uma escola com 180 meninos que ficou sem telhado e que estendiam os livros no chão para os secarem.
Penso que a resposta que está a ser dada pela comunidade internacional, pelos cidadãos a título individual e pelas entidades não governamentais tem sido pautada por um grande humanismo e solidariedade. E Portugal tem correspondido à chamada.
Devemos dar seguimento a este trabalho, para o bem da nossa comunidade residente na província de Sofala, dos cidadãos moçambicanos que nela vivem e dos elos históricos, culturais linguísticos e afetivos que unem as nossas duas nações.”