11/05/2018|

O cônsul Ad Honorem de Portugal no estado norte-americano, Caesar DePaço, foi esta quinta-feira padrinho de uma viatura de combate a incêndios, no concelho do interior do país

“Gostava de poder ajudar todos os bombeiros de todo o país. Mas não consigo. Vou ajudando alguns, à medida que consigo”, disse ontem em Alvaiázere o cônsul Ad Honorem de Portugal na Florida, Caesar DePaço, quando apadrinhava o carro-tanque que ajudou a recuperar, através de um cheque de 15 mil euros. Caesar não tem raízes naquela vila do interior, tão-pouco ouvira falar dela até ao dia em que a antiga deputada do PSD (fora da Europa) Maria João Ávila (que trabalha com ele na sua empresa farmacêutica, nos Estados Unidos da América) o sentou à mesma mesa com Teresa Morais, eleita pelo distrito de Leiria. Foi numa altura em que o cônsul já ajudara os Bombeiros de Carnaxide, depois de saber das condições em que pernoitaram nos incêndios de Pedrógão Grande: “deitados no chão, a dormir onde calhava”, conta Maria João Ávila.

Dessa vez, Teresa Morais não se fez rogada e disse-lhe que tinha “uma lista”. Não podendo ajudar cada uma das corporações que lá figuravam, começou pela letra A. “Foi então que lhe falei dos Bombeiros de Alvaiázere, que quase tinham perdido uma ambulância nos incêndios e ficaram com um dos carros de combate bastante danificado”, recordou ao DN. Era ainda verão e cheirava a fumo, e Teresa Morais percorria o interior norte do distrito que a elege deputada desde 2009.

A presidente da Câmara, Célia Marques, companheira de partido, não se cansa de enaltecer o facto de ter na deputada “uma amiga de Alvaiázere”, secundada pelo comandante da corporação, Mário Bruno, que lamenta o esquecimento do poder central. “Só se lembram de nós quando há desgraças”, há de concluir, já depois de batizada a viatura. Naquela associação humanitária, fundada há 78 anos, falta muita coisa, afinal, para lá das viaturas. Quando Caesar DePaço perguntou à direção do que mais precisavam, ainda, foi difícil escolher. Os bombeiros apontaram o alojamento que serve os 82 voluntários, em que vestiários e roupeiros acusam a excessiva utilização. O corpo ativo já foi bem mais dilatado, como lembra Mário Bruno, há dois anos no comando da corporação. “Para lá do despovoamento, temos outro problema: os jovens vão estudar para fora, perdem o contacto com a terra, e depois é difícil retomar esse laço. Por outro lado, antigamente aos 16 anos um jovem podia entrar para os bombeiros e fazer aqui a sua formação. Hoje isso não acontece. Só pode entrar aos 18, e depois de formado então pode ingressar na corporação. Ou seja, antes dos 19 ou 20 anos não consegue ser bombeiro. E isso desmotiva”, admitiu ao DN.

Escondido no interior norte do distrito de Leiria, junto à serra de Sicó, o concelho de Alvaiázere não tem mais de 6900 habitantes. “Às vezes sentimo-nos um pouco abandonados”, reconhece Célia Marques, pese embora o esforço para colocar a vila no mapa, através da valorização de alguns produtos endógenos.

Ajudar os outros

Caesar DePaço é natural da Madalena do Pico, nos Açores. Filho de um chefe das finanças que conheceu todas as repartições das ilhas, chegou aos Estados Unidos já homem feito, com 29 anos. Era lá que morava a mãe, e depois de uma temporada na Florida acabou por ficar. Psicólogo de formação, acabaria por fundar uma empresa farmacêutica, que é hoje uma das maiores do país e do mundo. Caesar estudou em Inglaterra e percorreu uma parte do mundo, mas nunca deixou de se sentir português. Na lapela exibe sempre o pin de Portugal, por onde distribui imensa ajuda a várias organizações. De resto, o cônsul Ad Honorem nunca foi capaz de se naturalizar americano. “Há uma pergunta que me fazem e à qual nunca seria capaz de responder afirmativamente: se os Estados Unidos entrassem em guerra com Portugal, seria capaz de o combater? É claro que não.”


O momento em que o cônsul Ad Honorem Caesar DePaço batizou o carro-tanque que ajudou
a recuperar

Fonte: Diário de Notícias.

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